domingo, 1 de novembro de 2009

ECOS DA ÁFRICA DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Karina Rêgo

INTRODUÇÃO

Os educadores das Séries Iniciais e Ensino Fundamental, em sua grande maioria, ainda não foram preparados para lidar com discursos multifacetados e heterogêneos em sala de aula, esse fato pode ser indicador da construção das falas silenciadas e da padronização homogênea de comportamento. A tomada de consciência de ser agente social e propagador de idéias que pairam no imaginário coletivo social ainda esta por vir, enquanto isso a cristalização de preconceitos continua dentro das salas de aula.
As idéias contidas neste texto procuram construir um panorama teórico sobre as conseqüências do apagamento da contribuição sócio-cultural na construção de uma identidade híbrida (2) e plural brasileira. Este trabalho de recortes de vozes teóricas objetiva apresentar, a partir da perspectiva pós-moderna(3) um olhar desconstrutor de paradigmas educacionais paralisantes que inviabilizam trabalhos verticalizados sobre a participação do negro na história e estória do Brasil. Assim, questões como invisibilidade e submissão estarão intrinsecamente ligadas à minha escritura, mesmo que não seja o tema central. A partir de uma análise mais atenta sobre essas questões revelou-se a necessidade da elaboração de um texto que, a luz de teóricos pós-modernos, identifica na literatura africana de língua portuguesa uma das muitas possibilidades de compreensão da nossa cultura plural. Diálogos estreitos entre as literaturas brasileira e africana de língua portuguesa nas salas de aula de ensino superior de educação fomentarão agentes sociais construtores de uma educação plural e multifacetada. Vale ressaltar que o processo educativo vislumbrado aqui é conceituado como práxis social de transmissão e apropriação de saberes e culturas, como também da efetivação dos mecanismos inclusão social a partir dos discursos periféricos silenciados. Partindo deste princípio, penso ser viável a promoção do pensamento crítico no espaço acadêmico a partir da relação instigante entre a visão de mundo literária e as experiências vividas pelos futuros educadores.
Não pretendo fechar um pensamento, mas sim, apresentar dados e discursos que corroborem para que a formação de novos olhares seja uma possibilidade ainda maior para que a participação de falas pluralizadas possa ser aceita sem a máscara do preconceito. Com o conhecimento de outras realidades de povos irmanados através não só da colonização, como também da adoção da mesma língua e a partir da utilização de textos literários como instrumento de aceitação da alteridade nos cursos de preparação de educadores, a nossa própria noção de identidade poderá ser compreendida sob uma perspectiva menos restritiva.


DISCURSOS DE PODER E PRESERVAÇÃO DE UMA REALIDADE UNILATERAL
Segundo Michel Foucault (1979), o poder não pressupõe o uso da violência e imposição de limites ou castigos, mas sim através da sutileza dos controles sociais. A dominação é exercida de forma velada, utilizando os próprios mecanismos sociais para difundir sua ideologia. Vista sob este prisma, submissão dos grupos marginalizados é mascarada por um falso pressuposto de naturalidade e de importância social. Pois, na ordem social brasileira não só os homens brancos desempenharam um papel importante dentro do seu espaço, a mãe de família, além de contribuir para o engrandecimento da Pátria, ainda teve o respaldo da Igreja, que valorizava sua função, considerando-a quase um sacerdócio. Os negros, com o pouco espaço dado, contribuíram também para o crescimento econômico brasileiro mesmo não estando no centro das decisões.
... foi preciso esperar o século XIX; mas talvez ainda não se saiba o que é o poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama poder. (Foucault, 1979: 75)
Difundir a ideologia do grupo social o qual centraliza o poder é estreitar laços de submissão com o mesmo sem ter sequer consciência do que faz. De um lado, vemos tentativas de aceno para a inclusão de grandes massas, de outro, não se percebe e entende como a inclusão é feita, tudo ainda continua obscuro e velado. As falas dos vencidos permanecem na margem do sistema, na periferia. Por isso, ocorre um descompasso: enquanto o movimento de respeito à diversidade cultural anda a passos devagar, à vontade (3) de tomada de consciência das diversas formas de submissão ideológica por parte de um grupo de futuros educadores anda a velocidade da luz. Questiono desta maneira o sistema educacional, será que nós educadores reproduzidos constantemente o discurso dos vencedores? Olhamos os nossos educandos sem idealizações?
E as reproduções dos discursos da elite continuam a serem reproduzidos em todas as esferas educacionais. Percebe-se que as relações existentes entre os educadores e educandos em sala de aula das Séries Iniciais e Ensino Fundamental passam pelo discurso autoritário e institucionalizado. É notória a situação unilateral de leitura de mundo por parte dos professores que utilizam como instrumento metodológico à leitura de livros que carregam intrinsecamente a identidade socialmente aceita. A subversão desta realidade acontece com mudanças de valores dentro da sua prática de ensino a qual poderá abrir espaços para elaboração de discursos repletos de diferentes vozes e com poucas identidades fragmentadas.
Para Bourdieu (1998), as propriedades atuantes, tidas em consideração como princípios de construção do espaço social, são diferentes espécies de poder ou de capital que ocorrem nos mais diversos campos. A posição de um determinado agente no espaço social pode ser definida pela posição social que ele ocupa nos diversos campos. O campo da educação das Séries Iniciais e Ensino Fundamental é ocupado, em sua maioria, por mulheres que são ainda marginalizadas e que têm seu trabalho constantemente desqualificado.


FATOS HISTÓRICOS E A CONTRIBUIÇÃO DE UM OLHAR HEGEMÔNICO

O dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar o que os dominantes dominam é a condição de libertação. (Demerval Saviani, 1981 p.32) A história oficial do Brasil “apagou” as contribuições cultuais, políticas e econômicas dos grupos vencidos - os negros em especial. O homem branco europeu construiu a sua versão dos acontecimentos ocorridos a partir da colonização brasileira até os dias atuais. Desta forma, criou-se um contingente de pessoas que não se identificam com uma cultura híbrida que tenha como participante fundamental para sua construção o negro. Elas desejam “apagar” qualquer lembrança de um grupo que de acordo com a história oficial não lutou e foi subjugado pelo branco a receber ordens. Os professores das Séries Iniciais e Ensino Fundamental ainda repassam aos seus alunos pensamentos ideológicos da não existência da participação do negro em nossa sociedade. (4)
O preconceito torna-se cada vez mais evidente com o discurso que diz respeito às diferenças culturas. Pois, o movimento constantemente da sociedade sobre debates do tema em questão vela os reais interesses da permanência do seu estatus quo.
... quanto mais um poder político domina um movimento social, tanto menos oportunidades existem de se criar uma sociedade democrática, e prevalece a tendência para o surgimento de um poder absoluto que se declara o único capaz de estabelecer o reino da igualdade, ou seja, de reduzir ou abolir as desigualdades sociais, substituindo todas as formas diversificadas de dominação social pela igualdade de todos mediante sua submissão a um poder absoluto ( Touraine, 1997, p. 23)
Países periféricos como o Brasil que tentam se colocar no mundo ocidentalizado da globalização, estão ganhando uma história única e universal. Por conta disso, pelo caráter hegemônico da situação, não se faz necessário à conscientização política de um povo cujo questionamento em torno da organização sócio-econômica é constantemente silenciado. Um “exército de educadores” desqualificados serve a manutenção de crianças sem criticidade e formação cultural para compreensão da sua pluralidade.
A corrupção endêmica e mazelas sociais não afetam diretamente o sentimento de nacionalidade dos brasileiros de acordo com uma pesquisa feita em 2003 pelo instituto Datafolha. Ela mostra que 85% dos entrevistados em todas as regiões brasileiras sentem orgulho de sua nacionalidade. Esta proporção cai na região sudeste que atinge seu menor valor entre os habitantes da cidade de São Paulo. Podemos perceber que a compreensão da sua própria identidade não está ligada diretamente ao fato de pertencer a um determinado país. Por outro lado, os dados apresentados são extremamente positivos para começamos um trabalho de mudança de base na educação brasileira.

NATURAL OU HERANÇA CULTURAL?

De um modo geral, encontramos, nas primeiras narrativas sobre o Brasil, a ênfase na abundância e beleza da natureza, a descrição dos costumes bárbaros de seus habitantes nativos (e estamos aqui nos referindo, por exemplo, as duas viagens ao Brasil, de jean de léry ) ou a seres predadores, fantásticos, que existiram nos trópicos...)
...o que viria a construir uma visão, depois reforçada, de um paraíso demoníaco, ou em outras palavras, uma natureza paradisíaca servindo de cenário a criaturas infernais e homens plenos de luxúria (tanto brancos como indígenas), vícios e costumes bárbaros. (Macedo, 2002, p. 15)
A construção da identidade brasileira formada a partir do olhar do outro corroborou para impressões preconceituosas distantes da realidade. E perduram até hoje, principalmente em espaços que deveriam teoricamente servir de ponte para ligar o conhecimento e mundo com o enciclopédico a fim de desfazer enganos seculares. (5)
“A glorificação do parecer ser” afirmada pelo historiador Luiz Carlos Villalta (1997) deixará de ganhar terreno a partir da desconstrução de velhos paradigmas criados no modelo educacional desde a colonização.
Já o antropólogo Roberto Damatta em seu livro Carnavais, malandros e heróis discorre sobre o dilema herdado pelo brasileiro. O livro faz uma reflexão sobre a submissão de um sistema de leis impessoais cuja obediência aos países do centro nos causa inveja e admiração e ao mesmo tempo burlamos as normas e ficamos com o “jeitinho”. Pois, de alguma forma, as leis se correlacionam com castigos e punições muitas vezes aplicadas injustamente às camadas mais podres da população.
Em seu livro Raízes do Brasil, o historiador Sérgio Buarque de Holanda em 1936 procurou explicar o significado do “homem cordial”. Segundo o historiador, o brasileiro tenderia a rejeitar a impessoalidade de sistemas administrativos em que o todo é mais importante que o individuo.
Os quatro discursos expostos no texto trazem traços da construção do ser brasileiro, da sua forma particular e paradoxal de relacionar-se com o outro tão admirado e ao mesmo tempo rechaçado pelas formas sutis de resistência. Ao fim e ao cabo, se no imaginário coletivo do brasileiro também houvesse espaço para outras formas de perceber e estar no mundo, o paradoxal tenderia a acabar, como também, a falácia de sermos “naturalmente” malandros. O malandro ganharia outro tipo de conotação e análise.
Constata-se que o lócus para mudança de paradigma educacional em relação aos estudos culturais não começa na escola, mas sim no curso de Pedagogia. O espaço acadêmico, em sua acepção, fomenta a vontade de voltar a aprender, pensar e procurar desconstruir conceitos que já parecem normais e imutáveis.

ESCOLA - ESPAÇO PARA A MANUTENÇÃO DO PODER

É surpreendente como as escolas ainda trabalham com o discurso de poder das elites e a unificação de uma única leitura de mundo. Leitura esta baseada nos princípios europeus de dominação cultural. Trabalhos horizontalizados os quais descartam a participação dos professores no processo de desconstrução ideologia não tem sentido, mas são constantes no cenário da educação brasileira. Mudança não ocorre. Entretanto, para estar pautada em um discurso “politicamente correto” de respeito à diversidade étnica, as escolas das Séries Iniciais e Fundamental limitam-se a adoção de livros didáticos ou de literatura infantil que contenham personagens sem estrutura cultural elaboradas para reflexão da realidade multicultural. (6)
A adoção da leitura de livros que tragam personagens negros não irá acabar com a formação de indivíduos desprovidos de outra forma de compreensão de mundo e de inclusão social. A cor da pele representa muito pouco em relação às literaturas que contenham traços culturais não hegemônicos. Estritas que possibilitem diálogos entre os interactantes conversacionais (o escritor (a) e as crianças) podem vir a fazer a criança despertar para o mundo compreendendo quem é
...as identidades sociais são construídas no discurso. Portanto, as identidades sociais não estão nos indivíduos, mas emergem na interação entre indivíduos. (Lopes, 2002, p. 37)
A quebra deste paradigma ideológico deve acontecer na formação dos educadores a fim de desconstruir sua visão de mundo eurocentrica. O período de formação profissional permitirá uma maior reflexão sobre o assunto, se disciplinas que enfoquem o trabalho com a literatura para compreensão do pensamento de outrem forem introduzidas no currículo.
A lei de inclusão sócio-cultural não modificará a leitura de mundo já formada pelos professores, se esses não começarem a debater temas pungentes como a configuração da identidade nacional, a imagem do negro no meio literário, a questão do gênero, a dimensão religiosa, a esfera estética e visual, a memória histórica cultural dos grupos negros e as constantes manifestações da negritude no cenário brasileiro.
Debates estes que poderão ser mediados por literatura de países como Angola e Moçambique a fim não só de suscitar a vontade de saber mais sobre países com tantas semelhanças e diferenças históricas que ao mesmo tempo nos aproximam e distanciam. Os futuros educadores, ao pensarem sobre o assunto, poder-se-ão chegar a tão esperada consciência de manipulação das massas através da educação.


PAPEL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA ORIENTAÇÃO DOS EDUCADORES DO ENSINO INFANTIL

As mudanças começam a partir das bases e com os professores. Empregar textos literários escritos em língua portuguesa por autores angolanos e moçambicanos no período das décadas de 60 e 70 que em sua maioria tematizam sobre o povo e as repressões sofridas por eles poderá gerar a construção de grupos de educadores conscientes de seu papel em sala de sala com posturas assertivas e autônomas. Pois, a leitura desses textos além de mostrar uma outra cultura, também faz com que o leitor identifique sua própria realidade nas estórias. Escolher textos literários para trabalhar com a conscientização dos futuros (7) educadores do seu papel social tem como finalidade despertar indagações, dúvidas, curiosidades a partir da sensibilidade proporcionada pelos textos narrativos ficcionais.
Autores como Boaventura Cadoso, Mia Couto, João Melo, Pepetela e Luandino Vieira os quais trabalharam com temas que refletem a dominação do branco europeu, formas de resistência e as conseqüências das opressões sofridas pelos angolanos e moçambicanos no período de repressão portuguesa, como também a situação dos “miúdos”(4) poderão suscitar nos futuros educadores a sensibilidade de percepção de sua própria identidade cultural.
Muitos contos e romances moçambicanos e angolanos enfocam a importância da conscientização política, cultural das crianças a fim de compreenderem não só o espaço em que vivem, como também, o mundo que fazem parte. As narrativas têm como uma das características fundamentais a adoção da linguagem oral como forma de resistência e propagação da voz do próprio povo. Textos, então, mais que adequados para começarmos o primeiro processo de conscientização do caldo cultural em que vivemos o qual poderá ser dialógico. As tentativas de aproximação das culturas de língua portuguesas dos paises colonizados ainda não foram suficientes para enxergamos a nossa pluralidade cultural.
O processo educativo vislumbrado aqui é conceituado como práxis social de transmissão e apropriação de saberes e culturas, como também da efetivação dos mecanismos inclusão social, mas ainda permanece muito difuso, sem clareza. A colaboração cultural realmente aceita ainda é a do colonizador, a mesmo que os futuros educadores adotem práticas culturais em seu cotidiano diferentes das institucionalizadas, mas que promovam a reflexão da identidade cultural de um país.
O discurso diminuirá os preconceitos em relação às contribuições do negro e procurará perceber o contexto sócio cultural de cada criança para que elas não desejem parecer ser o que não são. As aulas de Produção Textual do curso de Pedagogia proporcionarão o conhecimento de outra forma de perceber e estar no mundo através da língua portuguesa tão plural e rica para compreensão de um mundo que não deve ser pensado por uma meta-narrativa.
Escritores como Silviano Santiago, Rita Chaves, Luiz Paulo da Mota Lopes, Stuart Hall, Fredric Jameson, Tânia Macedo, Paulo Freire, Moacir Gadott entre outros contribuirão para sedimentação do ponto de vista que tentará mostrar a necessidade dos estudos literários de escritores africanos para a desconstrução de uma leitura de mundo uma e não plural.
Não posso deixar de salientar a existência de uma sede de mudança por parte desse alunado, o que leva o corpo docente das instituições de ensino superior a preparar estratégias de desconstruções dos modelos pré-determinados pela sociedade, orientando-os a terem uma voz que subverta a ordem vigente. Mas, os discursos, em sua totalidade são constituídos por vozes de teóricos que não vislumbravam atender um público específico no trabalho com a conscientização cultural das crianças.
Existe um direcionamento por parte dos educadores desta de valorização dos diversos saberes trazidos pelos alunos, respeitando suas realidades e diversidades culturais, ao mesmo tempo em que apresenta novas possibilidades de compreender o mundo, pautado no saber teórico.
É necessário salientar que a prática pedagógica do corpo discente na contemporaneidade não é descartada, ao contrário, cada vez mais existe uma apropriação dessa prática para a construção de um novo saber. Só que trabalhos através de estudos literários podem corroborar através da identificação com as estratégias da escrita ficcional com a formação de educadores que contenham possibilidades de compreender as coisas do mundo.
Trabalhar com literatura que reflita a construção de uma meta narrativa histórica eurocentrica e a negação de outras culturas de formação identitária faz-se necessário no universo educacional em que nos encontramos hoje.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Nas Américas, ao fio das travessias, os escritores aprenderam que nada suprirá a falta, mas que a escritura é uma poderosa estratégia para contorna-la.” (Bernd,2003, p.30)
Toda a reflexão feita ao longo deste artigo procurou traçar um panorama do magistério brasileiro e a forma de manutenção do estatus quo a partir do olhar do vencedor. Questões como exclusão, invisibilidade, submissão, estão intrinsecamente ligadas ao nosso discurso, mesmo que não apareçam claramente. A partir de uma análise mais atenta a essas questões revelou-se uma possibilidade de entendimento dos intensos percursos feitos pelos professores de ontem e de hoje a procura de um espaço, em que ocorra a valorização do magistério enquanto categoria profissional com a conscientização do papel deste educador na formação da identidade cultural do seu futuro aluno.
Não que se pretenda fechar um pensamento, mas sim, apresentar dados e discursos que corroborem para que a elaboração de novos olhares seja uma possibilidade ainda maior (9)
para que os estudos culturais a partir do olhar da literatura possam ser cada vez mais vistas e compreendidas sob uma perspectiva menos restritiva.
O estudo da literatura de língua portuguesa africana não pode mais ser um eco no cenário da educação brasileira. Propor a participação dos educadores no processo de inclusão social através de estudos literários poderia fomentar o interesse de se conhecer e conseqüentemente ao outro que faz parte da nossa cultura. Construção da consciência crítica, as mudanças de perspectiva em relação à participação dos negros da sociedade brasileira são importantes de serem estudadas, pois ajudarão na quebra de velhos e novos paradigmas confusos que paralisam reflexões desconstrutoras. Desta forma, a compreensão do outro e sua diversidade a partir do entendimento de diversos olhares contribuirá na formação dos professores do novo milênio não os deixando a deriva de informações ideologicamente hegemônica. Perceber que as informações literárias européias não são as únicas formas de interpretar a vida, será importante para o entendimento da diversidade cultural brasileira.

1 Mestra em Lingüística e Literatura pela UFBA, professora da Faculdade Social da Bahia.
2 A palavra híbrida, segundo Nestor Canclini em seu livro intitulado Culturas Híbridas, abrange diversas mesclas interculturais, não apenas as raciais e permite também incluir as formas modernas de hibridação melhor que “sincretismo”, fórmula que se refere quase sempre a fusões religiosas ou de movimentos simbólicos tradicionais.
3 Perspectiva pós-moderna refere-se a uma análise do contexto sócio-cultural e econômico a partir do olhar das construções textuais multidimensionais, não logocentricas a qual tenta trazer de volta as diferenças, um pensar sem centro. 2
4 Miúdo significa criança. 8

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. São Paulo: Bertrand Brasil, 1998.
DEMO, P. Éticas Multiculturais- Sobre convivência Humana Possível. Vozes, Petrópolis, 2005.
D’INCAO, Maria Ângela. Mulher e família burguesa. In: priore, Mary Del (Org.). História das mulheres no Brasil. 2a ed, São Paulo: Contexto, 1997.
D’INCAO, Maria Ângela. O Estado e o novo patriarcalismo. IN: D’INCAO, Ângela (Org.). Amor e família no Brasil. São Paulo: Contexto, 1989.
DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Eróis. Rocco, 1997.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia- Saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1997.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Record, 1992.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 1997.
LIMA, Marta Maria Leone. Magistério e condição feminina. IN: COSTA, Ana Alice Alcântara, ALVES, Ívia. (Orgs). Ritos, mitos e fatos. Mulher e gênero na Bahia. Salvador: NEIM/UFBA, 1997.
LOPES, Luis Paulo da Mota. Identidades fragmentadas- a construção discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. São Paulo: Mercado das letras, 2002. LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. IN: PRIORE, Mary Del (Org.). História das mulheres no Brasil. 2a ed, São Paulo: Contexto, 1997. MACEDO, Tânia. Angola e Brasil- estudos comparados. São Paulo: Arte & Ciência, 2002.
SCHAFFRATH, Marlene dos Anjos Silva. Profissionalização do magistério feminino: uma história de emancipação e preconceitos. Santa Catarina, Universidade de Maringá, 1998.
TOURAINE, Alan. Igualdade e diversidade- o sujeito democrático.são Paulo: EDUSC, 1997.
VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. IN: História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. vol 1 10

sábado, 10 de outubro de 2009

" DESEJO

Desejo a vocês..
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
"

Carlos Drummond de Andrade

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